Israel se torna 1º país a reconhecer território da Somalilândia, e nações africanas criticam ato
Grupo celebra em Hargeisa, cidade na Somalilândia, decisão de Israel de reconhecer a região independente como país, em 26 de dezembro Farhan Aleli/ AFP A So...
Grupo celebra em Hargeisa, cidade na Somalilândia, decisão de Israel de reconhecer a região independente como país, em 26 de dezembro Farhan Aleli/ AFP A Somália e a União Africana (UA) reagiram neste sábado (27) com indignação reconhecimento por parte de Israel da região da Somalilândia como um Estado independente. Na sexta-feira (28), Israel reconheceu formalmente o território, que reivindica independência da Somália há mais de 30 anos, e se tornou a primeira nação do mundo a fazer esse reconhecimento. ✅ Siga o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp ➡️ O território da Somalilândia, do tamanho do Uruguai (175.000 km²) e situado no extremo nordeste do Chifre da África, declarou sua independência da Somália em 1991, quando o país enfrentava um cenário de caos após a queda do regime militar do autocrata Siad Barre. Desde então, a região funciona de forma autônoma e se distingue por uma relativa estabilidade em comparação à Somália, afetada por insurgências islamitas e conflitos políticos. "A Somalilândia é um Estado independente e soberano", afirma um comunicado divulgado pelo gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. A decisão, no entanto, foi condenada pela Somália e pela UA, organização internacional formada por 55 Estados do continente. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que Washington também não seguiria os passos de Israel, seu aliado. Veja, abaixo, as principais repercussões: A Somália chamou o ato de um "ataque deliberado contra sua soberania" por parte de Israel e advertiu que o anúncio exacerba "as tensões políticas e de segurança (...) na região"; Em comunicado, a União Africana advertiu sobre o "risco de criar um precedente perigoso com consequências consideráveis para a paz e a estabilidade em todo o continente"; Donald Trump disse em uma entrevista ao jornal "New York Post" que se opõe ao reconhecimento da Somalilândia por parte dos Estados Unidos. "Alguém sabe realmente o que é a Somalilândia?", disse o presidente norte-americano na entrevista; Dadas as repercussões geopolíticas, organizações multilaterais entre elas o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) e a Liga Árabe também reprovaram o anúncio. Turquia, Djibuti — que tem fronteira com a Somalilândia —, Egito e Autoridade Palestina rejeitaram a iniciativa; Os shebab, islamitas armados vinculados à Al-Qaeda que lutam contra o governo somali há duas décadas, também condenaram o anúncio. O porta-voz do grupo, Ali Dheere, afirmou em um comunicado que os islamistas "rejeitam a ambição dos israelenses de reivindicar ou utilizar parte de nossos territórios. Não aceitaremos e os combateremos". A Somalilândia tem uma posição estratégica na entrada do Estreito de Bab el-Mandeb, em uma das rotas comerciais mais movimentadas do mundo, que liga o Oceano Índico com o Mar Vermelho e o Canal de Suez, mais ao norte. Posição estratégica Veja os vídeos que estão em alta no g1 Analistas acreditam que a decisão israelense foi motivada por interesses de segurança regional. "Israel precisa de aliados na região do Mar Vermelho por muitas razões estratégicas, incluindo a possibilidade de uma futura campanha contra os houthis", os rebeldes iemenitas apoiados pelo Irã, afirmou o Instituto de Estudos de Segurança Nacional, em um documento publicado no mês passado. A costa do Iêmen fica próxima da Somalilândia, e Israel atacou alvos neste país de forma reiterada após o início da guerra na Faixa de Gaza, em outubro de 2023. Os bombardeios foram respostas aos ataques dos houthis lançados contra Israel em solidariedade aos palestinos de Gaza. Israel, além disso, tenta fortalecer suas relações com países do Oriente Médio e da África. Os históricos Acordos de Abraão, alcançados no final do primeiro mandato de Trump em 2020, estabeleceram relações entre Israel e países muçulmanos como Emirados Árabes Unidos, Marrocos, Bahrein e Sudão. Mas os esforços foram interrompidos pela guerra de Gaza. "Estou muito, muito feliz e muito orgulhoso deste dia, e quero desejar a você e ao povo da Somalilândia o melhor", declarou Netanyahu ao presidente da Somalilândia, Abdirahman Mohamed Abdulahi. O território buscava reconhecimento internacional há décadas. O presidente Abdulahi afirmou que esta era sua prioridade ao assumir o cargo, no ano passado. "É um momento histórico", celebrou o Abdulahi. Na capital, Hargeisa, centenas de pessoas saíram às ruas durante a noite com bandeiras e gritos de "vitória". O presidente da região independentista de Somalilândia, Abdirahman Mohamed Abdullahi, durante visita a Nairobi, no Quênia, em maio de 2025. Monicah Mwangi/ Reuters